quinta-feira, 21 de setembro de 2023

Uma breve história

São 36 anos vividos e completos em setembro. Nosso casamento teve altos e baixos como muitos outros, mas o nosso amor é uma prova de que os obstáculos podem ser superados. A Cris se mostrou ser mais do que excelente companheira, ela é quase perfeita. Mas quem nos completou como casal foi nosso criador. E com Jeová Deus do nosso lado, quem pode contra nós?

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Você leitor
Tem tempo pra ouvir?
Você ouvinte
Tem tempo pra ler?
Então essa é pra você
É uma história sobre o tempo
Tempo do: "Só acredito vendo
E vendo não acredito"
Então eu digo, meu amigo:
Ao final vais concordar comigo
Vai ser como chegar ao paraíso
 
É uma história sobre o tempo
Tempo bom e às vezes nem tanto
É um tempo com documento
Pode estar amarelado pelo tempo
Tem até nomes e data de nascimento
Tem até carimbo
Por vários lugares estabelecidos
Até uns carimbos gringos
 
Você ainda tem um tempinho?
Por que esse pergaminho
Vou revelar para vocês
Em anos tem só 36
   Até parece que só tem um mês
   Que esse tempo começou a contar de vez
O tempo às vezes fechava
Mas depois melhorava
Sim, o tempo é frio
Não, o tempo não se importa
Nosso nome? Ele ignora
O tempo só fica lá fora
Mas o amor bate aqui dentro
E te conhece de todo o jeito
Te mapeia por inteiro
 
Quer saber do documento?
Aquele amarelado pelo tempo?
Escrito ali em cima
Tem um lindo nome rimando com vida
É a Cristina de Minas
Meu nome está logo ali
Nem em cima nem abaixo
Mas ao seu lado
E 87 é a data de nascimento
Dessa união de nome casamento
Mesmo num sábado chovendo
Foram os ipês de setembro
Que amarelaram o documento
E venceu as ações do tempo
 
Por isso pedi o seu tempo
Por que a história tem seguimento
Até que a morte nos separe
Mas o amor vence nossos inimigos
Então ficaremos para sempre unidos
 
Onde está esse documento?
Onde está registrado
Guardado e arquivado?
Não sabemos
Nem a Cris nem eu
Tampouco Rodolpho, Arthur ou Matheus
Mas temos fé que está nas mãos de Deus
Setembro 2023




quarta-feira, 4 de maio de 2022

Crônicas de um sem-teto

Não sou sem-teto
Meu teto é o céu estrelado
Um céu esfumaçado
Nem sempre enluarado
Mas me serve de teto
Esse teto é bem-vindo
Enquanto estou dormindo
 
Vou de carro em carro
Procurar um agrado
Um regalo
Talvez uns trocados
Um real furado
Pra comprar um salgado
Ou um prato
De arroz e feijão requentado
 
Também vejo malabares
Jogando coisas pelos ares
Pessoas vendem doces
Driblando seus amargores
Esse é o nosso palco
Onde somos mais palhaços
Do que gente
 
Confesso e não me deixa contente
Por vezes a gente mente
Mas o que ganho
É pra aguardente
Serve pra acalmar a dor latente
Num peito indigente
 
Faça segunda ou faça chuva
Estou lá na minha labuta
Na vida dura
Aliás minha vida
É colorida de cinza
Minha vida
Vale uma esquina
Olho pra cima
Nem consigo uma rima
 
O asfalto é meu dia a dia
O semáforo me olha
E nem se incomoda
E me avisa: não demora
Pelos carros sou ignorado
De faróis apagados
Vidros fechados
Todos filmados
Hoje minha fome
Continua a mesma de ontem
 
Assim foi o dia
E nem todo dia
Se ganha o dia
Dia sim
Dia não
A gente ganha o pão

Maio 2022




quinta-feira, 14 de abril de 2022

Rádio calado

Esse rádio
Já esteve na moda
Aliás, muita moda de viola
Música caipira da roça
Nada desse tal sertanejo
Que hoje por aí eu vejo
 
Meu pai acordava cedo
Deixava o café coando
E o rádio já ia falando
Tocava música o dia todo
Dava notícia de tudo e de todos
Ondas médias AM
Ainda não tinha FM
Mas ele era todo eclético
Tocava Zé Béttio
Roberto Carlos
Até Silvio Santos no rádio
No programa diário
Só calava
Quando a energia secava
 
Era de manhã até de noite
De segunda a dezembro
O ano inteiro
Eu já estava acostumado
Com o seu som alto
Com o seu tom encorpado
Até futebol ele narrou
Gritou muitos gols
 
Esse rádio tinha história
E não era pra ninguém dormir
Umas eram pra chorar
Outras eram pra rir
Uns nasceram
Outros voltaram
E muitos se foram
Mas ele permanece
Nem por isso se enaltece
 
Hoje ele anda calado
Tipo aposentado
Está todo restaurado
Corpo amadeirado
Marrom lustrado
Fica ali no seu canto
Não fala como outrora
Não diz o tempo nem a hora
Ao seu lado
Descansa um retrato
Cansado e amarelado
Você me ajuda a lembrar
Do pai e da mãe no passado
 
Querido amigo rádio
Obrigado
Por sempre ter estado
Do nosso lado
Calando
Quando tinha que calar
Mas falando
Quando tinha que falar
Abril 2022
 
Hoje ele anda calado
Tipo aposentado


quinta-feira, 7 de abril de 2022

Vinil a 1000

Acho que saí antes da hora
E fui empurrado para fora
Não me receberam com palmas
Cheguei com palmadas
Eu aprendia engatinhar
Mas já fui mandado andar
Mal estava andando
E já fui pro primeiro ano
A vida voava
E eu já estava na oitava
Eu estava trabalhando
E de novo me vi no primeiro ano
Minha vida rodava igual vinil
Aquele tempo passava a mil
Sem tempo pra me preparar
Era necessário apenas continuar

E por um momento
De repente chegou meu casamento
A Cris chegou
Por que demorou?
Ela com sorriso de 20
Eu com olhar 23
Eu estava aprendendo a ser filho
Agora já era marido
No dia seguinte eu era pai
O calendário gritava 91
Nem deu tempo de perguntar “why?”
Mal sabia o que era ser brasileiro
E caí em solo estrangeiro
Quatro anos
Passavam igual vento

Era 94 e chegou dezembro
Ali estava meu rebento
Nem lhe dei um acalento
E eles se foram em setembro
Logo depois eu voltava
Para quem se importava
Em 98 a vida ficava mais dura
Mesmo assim nasceu o caçula
Me virei e dei uma olhada
Minha família estava formada

A vida não dá tempo pra esperar
Não dá pra se preparar
Só dá pra continuar
Parece que o relógio está adiantado
E eu sempre atrasado
Tenho lembranças
Ainda tento ser criança
Quando me chamam de adulto
Mais um fio deixa de ser escuro
Essa é a realidade das coisas
Assim caminha minha vida
Até quando aquele dia chegar
Quando o tempo não vai faltar

Abril 2022

Minha vida rodava igual vinil






Café novo

Quando eu era criança e minha mãe ia fazer café, eu pedia um “café novo”. Esse café era o primeiro café que era coado. Eu, na minha inocência de criança, o chamava de “café novo”. Minha mãe simplesmente atendia meu pedido, com muito amor, claro.
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Eu olhava a chaleira
Enquanto a água caia
Toda cristalina
Se derramava
E se misturava ao pó
E não mais estavam sós
A água rodopiava
E se misturavam cada vez mais
O coador tentava conter
E o líquido descia
Como conta gotas escorria
A fumaça flutuava
Eita viagem de graça
Era cheiro de criança
E eu voltava à infância
Cheiro de café
Adoçado com amor de mãe
Tempo bom no ar
Que acabou de voltar
 
Eu pedia
E só a mãe atendia
Eu pedia o “café novo”
E ela sabia
E ela atendia
Era a primeira medida
Só pra mim na xícara
O primeiro gole era meu
Isso já era uma benção de Deus
 
Eu de cabeça erguida
Olhava minha mãe querida
Era ali, perto da pia
Esperando o presente
Que vinha de cima
Café na barra da saia
Sentimento puro
De lugar mais seguro do mundo
 
Volto da viagem no tempo
E o tempo deixou marcas em meu rosto
Mas não reclamo nenhum pouco
Pois ainda sinto o gosto
Daquele café novo
                                                    Abril 2022




Studio

O elevador me convidou
E foi me levando pra cima
Fui subindo na vida
E que bela vista
O 18º andar
Demorou um prédio todo pra chegar
 
A porta branca
Cuida e tranca
Daquela sala linda
Em plena Curitiba
Aquele studio inspira vida
É uma beleza
Com um quê de leveza
 
Verde suavizado
Rosa delicado
Na parede tudo emoldurado
O branco é todo leve
Parece branco de branca de neve
Ah, que cores da hora
Te fazem esquecer
Do mundo cinza lá fora
 
A cortina tipo linho fino
Tem os pés no chão
Mas o teto é o limite
As plantas acham normal
Viver naquele habitat natural
 
O Rodolpho suou e trabalhou
De eletricista a engenheiro
Pra deixar tudo perfeito
Ali ele me serviu um espresso
Numa xícara da cor daquele lugar
Tudo combinando e ornando
Isso só se vê de vez em quando
Bom gosto
Que dá gosto
 
É um belo lugar
De gente bonita se encontrar
As pessoas já chegam belas
E saem felizes
É beleza que se vê no rosto
Todas são modelos
Fácil de se encontrar pelos espelhos
O brilho dos lábios na verdade são
Sorridos do fundo do coração
 
Vou querer voltar lá
Só pra ficar ali
A gente ama
Estar com a Amanda
No Studio da Amanda

                                    Janeiro 2022


É um belo lugar
De gente bonita se encontrar


 


sexta-feira, 14 de maio de 2021

Garrafa (não)pet

Chuva forte na cidade e eu estava esperando a Cris sair do trabalho. Então observei uma garrafa plástica sendo varrida pelo vento forte. Aí eu escrevi...

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A ventania estava furiosa
E toda desrespeitosa
Árvores descabeladas
Perdiam seu charme
Perucas e paetês
Tentavam vencer
A peleja naquele entardecer

Uma garrafa plástica
Longe de ser pet de alguém
Rodopiava feito sei-lá-quem
Num bailar insano
Num dançar mundano
Procurando seu mundo em algum canto
E se livrar daquele vento
Ventando feito ventania
Como se não houvesse
Um hoje nem ontem
Tampouco e por muito menos
Um amanhã para se ventar

E a garrafa girava
Como embriagada se pinga
Toda girada e rodopiada
Virando anedota e piada
Num show em plena avenida

Saudade de quando era envasada
Pronta para ser adotada
E ir para alguma casa
E agora
Se ao menos fosse reciclada
E ter uma sobrevida
Nessa vida ainda
E não ser esquecida
Toda nua numa rua fria
Tendo a lua de teto
E a sarjeta como alento
Sem rótulo nem documento
Naquele momento
Na tormenta em seu pior tormento

Onde está seu dono
Ou sua dona
Daquela garrafa abandonada?
Largada ao relento
Lançada pra lá e acolá
Condenada a dormir no bueiro
Num submundo de mal cheiro

E seu dono ou tutor?
Deveria dormir ali junto de seu amor
Antes eram apenas um sem pudor
Agora um vive tranquilo
Enquanto isso
A garrafa passa por aquilo
Tendo como destino
Um bueiro entupido
E um futuro já escrito:
Um rio todo cinza
Aguardando sua garrafa amiga
Mas sem um líquido de vida

Abril 21